Nenhuma droga é tão viciante quanto a atenção, se você encontrar quem te forneça você sempre volta querendo mais. Bebê Rena é uma dessas séries que fazem a gente ir mudando de ideia no meio da trama, não aquele tipo de plot twist que fazem em filmes de assassinos que a gente pensa “Caraca então ele era o malvadão”. Nessa série, que só depois descobri foi baseada em fatos reais, ouvimos a narração de Donny Dunn e cara, as coisas ficam tensas.

O ator escolhido, Richard Gadd, coube como uma luva no papel de Donny, um comediante que sai da segurança do lar para tentar viver do seu sonho. Magro, semblante triste e de uma fala ácida, ele quebra a cara. Nesse momento ainda não sabemos, mas o trabalho como balconista é uma segunda opção dolorosa, onde ele faz o possível para pagar as contas e se manter tentando fazer seus shows de comédia que por sinal são bem ruins.

Eis que entra em cena uma figura no mínimo atípica, Martha, que também preciso dizer foi muito bem interpretada por Jessica Gunning. De aparência fragilizada, chorosa, ela pede uma bebida e nosso herói se aproxima para deixar o dia dela menos triste. Isso dá início a um relacionamento entre uma mulher carente que alega ser uma advogada famosa, apesar de nunca ter dinheiro para pagar por sua coca zero diária e passa a maioria do tempo no bar.

Até que a relação começa a ficar abusiva, e começamos a pensar se Donny realmente não gosta dessa atenção, porque quando ela se afasta ele vai atrás. Neste ponto pensamos se não seria ele o carente de atenção, porque ela começa a estar em todos os lugares, ele aceita ela nas redes sociais, e ela começa a curtir, comentar e cobrar satisfação de tudo e ele espera até às últimas consequências para denunciar, agora a gente não gosta mais dele, até que…

Depois de alguns flashbacks muito bem introduzidos, descobrimos que Donny passou por um relacionamento abusivo enquanto tentava lidar com os sonhos de se tornar comediante. Uma vida com uma namorada e as contas, ele foi literalmente abusado por pessoas que representaria seu crescimento no Show Business, drogas, abusos, violência, mais drogas, mais abusos, mais atenção numa espiral que coloca ele em busca de alívio ao ponto de duvidar da própria sexualidade.

Agora começamos a entender a dependência do rapaz, os erros começam a ser perdoados por nós, até que como diria Tim Maia, ele vai lá “ Vacila e põe tudo a perder” nos dando motivos de sobra para detestar o rapaz – não que a Martha seja flor que se cheire – mas eles meio que vão se merecendo, saca? Tanto que ele acha desculpas para ver ela, ele tem até um mural dela com fotos, ele tem áudios dela, mesmo depois dela agredir a pessoa mais legal na vida dele.

Acontece um julgamento, e ele se vê perdido de novo, volta ao começo de tudo, como um cara sozinho, sem emprego, sem comédia, sem a fama que obteve expondo todo o caso de perseguidora, abuso e traumas; ele é só um magrelo simpático, triste de roupão sujo, chega a um bar e pede uma bebida, sem saber que está sem dinheiro, até que alguém dá uma dose de droga que vicia mais do que todas, atenção.

A série é cheia de gatilhos, então dependendo de como foi sua vida recomendo que não veja. Foi muito bem dirigido e o elenco é fantástico, não tem sexo explicito gratuito como em outros do gênero, tudo na medida certa apesar de impactante.

Minha nota para a série é 7,9.

PS. Se você está passando ou conhece alguém que esteja passando por abuso ou violência, seja física ou mental procure por ajuda no Disque Denúncia 181 é grátis e o anonimato é garantido.

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